domingo, 25 de outubro de 2009

Juntos por uma educação melhor!


A expectativa que o grupo tem do papel do professor, é a de que ele intervenha, de forma ativa e reformule sua prática através de avaliaçãoes e estratégias diferenciadas, com métodos alternativos, atingindo a urgente transformação, com autonomia e participação, consciente e responsável, tornando-se um profissional facilitador da aprendizagem, prático reflexivo, atingindo metas pessoais, profissionais e sociais, além de saber ouvir, observar, auxiliar, criar, inovar, de forma dinâmica, crítica, cidadã e democrática.

Grupo de trabalho - educaucb - Turma 411




terça-feira, 20 de outubro de 2009

VERMELHO COMO CÉU

Num belo filme, chamado Vermelho como o céu, um menino cego guia uma menina por corredores escuros. E uma metáfora de Saramago diz que o grande crime é não cegar quando todos já são cegos.O filme mostra-nos cegos que conseguem “ ver “ porque, somente quando alcança a saída da caverna platônica, quem vê reassume a missão de conduzir, isto é, do Ensaio sobre a cegueira ao Ensaio sobre a lucidez, Saramago não faz outra coisa que não seja lembrar-nos da tragédia edipiana, a qual nos fala daqueles que, tendo olhos, não vêem.
Visitei uma escola que me diziam ser “ inclusiva “. Numa turma de 4ª série, encontrei um aluno que diziam estar “ incluído”. Copiava frases escritas no quadro tão lentamente que, no fim da cópia, a folha foi para o lixo- estava empastada de saliva,que escorria sem que ele a conseguisse conter. No fundo da sala, o “ incluído” tornara-se invisível.
À impotência e à frustração dos professores soma-se o desespero dos pais: Na hora de matricular é aquele abraço, mas depois a minha filha passa o tempo todo passeando pela escola ou no fundo da sala.
No decurso de um congresso, alguém afirmou: “ A organização em turmas não combina com inclusão. Onde houver série, não pode haver respeito pela diferença, não pode haver inclusão”. Essa pessoa viu, claramente visto, o logro de uma “ inclusão de fachada “. Mas há quem não queira ver. Todas as escolas incorporam a “ inclusão “ ao seu discurso. Na prática, são escolas inclusivas “não-praticantes”, porque não basta o discurso que apela à integração dos diferentes nas escolas ditas regulares. Não basta assegurar o direito à inclusão: é preciso assegurar a inclusão.
Desperdiçamos o nosso precioso tempo em debates bizantinos: qual a melhor idade para aprender a ler? Organização em série ou em ciclo? Escola de oito séries ou de nove anos? Sempre as mesmas inúteis discussões. Quando nos referimos à palavra “ aluno”, de qual aluno concreto estamos falando? Do João? Da Maria? De nenhum! Se a melhor idade é a idade de cada um, por que se insiste na discussão de abstrações?
Entretanto, o modelo “ tradicional” reproduz-se como uma praga: turmas, aulas, horários, uniformes, currículos segmentados em anos e ciclos. Mais data show, menos giz: em pleno século XX, a escola mantém-se tributária de necessidades sociais do século XIX. Os jesuítas eram mestres competentes, pois sabiam o que faziam. Nada consegue abalar a estrutura que deles herdamos. Exaurimos recursos na sujeição a uma racionalidade caduca; reproduzimos um modelo que demonstrou eficácia, mas que já se tornou absoleto e condena o insucesso sucessivas gerações de alunos e professores.
É urgente reconfigurar o espaço e o tempo escolar à medida de cada criança. É preciso reafirmar que cada cada deve poder ser cada qual. Cada ser humano é único e irrepetível. É indispensável respeitar o ritmo de cada criança, considerar o estilo de inteligência de cada criança, a cultura de origem de cada criança, o repertório de linguagens de cada criança.
Somos todos seres únicos e irrepetíveis, mas o modo como muitas escolas estão organizadas não permite dar resposta efetiva aos diferentes. E nos diferentes eu incluo os que, não tendo sinais exteriores de “ deficiência”, completam a escolaridade básica sem aproveitamento e vão engrossar as fileiras dos desqualificados. É indispensável alterar o modo de organização de muitas escolas e interrogar práticas educativas hegemônicas. Será preciso reconfigurar as escolas para que se concretize uma efetiva diversificação das aprendizagens, que tenha por referência uma política de direitos humanos, que garanta oportunidades educacionais e de realização pessoal para todos.
Convivemos com o “ insucesso educativo” como se a expressão não fosse, em si mesma, paradoxal( como pode a palavra “educativo” ser adjetivo da palavra insucesso? ), tratando os “desiguais” como se fossem iguais. Felizmente para os “ desiguais”, nem todas as escolas são “iguais”. Acredito que a escola há de resgatar o seu papel de “berço de oportunidades”. Acredito que, algum dia, os professores hão de compreender por que razão, para certos modos de ver, o céu pode ser vermelho.

Referência
José Pacheco é mestre em Educação.
jfpacheco@mail.telepac.pt

Revista pedagógica Pátio
Ano XII Janeiro de 2009 – número 48

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